Médicos veterinários Cleandro Pazinato Dias e Filipe Dalla Costa abriram a programação científica do Simpósio Brasil Sul de Suinocultura

Bem-estar animal e as novas legislações foi o tema que abriu a programação científica do 15º Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS), nesta terça-feira (8), em Chapecó (SC). As legislações no Brasil (Instrução Normativa 113 e Portaria 365), na Europa (Alemanha e Espanha) e nos Estados Unidos (Califórnia) foram o foco da palestra do médico veterinário, mestre em Ciências Veterinárias e doutor em Bem-Estar Animal Cleandro Pazinato Dias, que explanou sobre o tema “Bem-estar e a nova legislação. O que precisamos entender?”. Ele também fez simulações do que pode acontecer no Brasil a partir das mudanças no exterior e o que a cadeia produtiva precisa entender.

Cleandro explicou que, no Brasil, a Instrução Normativa 113, de dezembro de 2020, estabelece as boas práticas de manejo e bem-estar animal nas granjas de suínos de criação comercial e a Portaria 365, de julho de 2021, aprova o regulamento técnico de manejo pré-abate e abate humanitário e os métodos de insensibilização autorizados pelo Ministério da Agricultura (MAPA). Porém, enfatizou que a Europa é percursora nas normas de bem-estar animal e é referência mundial. “Quem quiser vender para a Europa terá que seguir as mesmas normas. A Europa tem um longo histórico de legislação e está com muita mudança”, frisou.

Uma das alterações no mercado europeu é o fim do uso das gaiolas de gestação e de maternidade. “Isso é algo muito impactante para o mundo inteiro, se a Europa segue esse caminho, é importante que a gente saiba e entenda como nos posicionarmos porque vamos concorrer com os mercados deles, tanto de produção quanto de comercialização de carne suína”, salientou Cleandro.

Da mesma forma, o palestrante realçou alterações nos Estados Unidos, em especial na Califórnia, onde tem uma legislação nova, inclusive com penalizações para quem não a seguir. “A Califórnia representa 8% da população americana e está com uma legislação que só poderá entrar carne suína, ovos, lácteos e outros derivados de animal que sigam determinadas práticas. Essa nova legislação impacta a produção e a comercialização”, expôs. Entre as determinações, está a abolição do uso das células individuais na gestação e ter um espaço mínimo na fase de gestação para matrizes.

Para Cleandro, o que acontece na Europa e no mercado norte-americano chegará ao Brasil e, por isso, é importante a cadeia produtiva estar preparada e entender alguns aspectos. Entre eles, estão: a migração para maternidades com confinamento temporal; o banimento das celas individuais em todas as fases é um caminho natural; o espaço fornecido por animal deverá ser maior; o maior espaço no transporte e que, com bem-estar, se produz melhor e se reduz o uso de antibióticos. Também é preciso considerar a inter-relação da ética, da ciência e da legislação com o bem-estar, que a vontade do consumidor é que prevalecerá, que a pressão por mudanças para o bem-estar se ampliará e se intensificará, que a Europa deverá atualizar suas legislações e adicionar mais restrições. “Devemos aplicar melhor as legislações, não apenas ‘cumprir exigências’”, finalizou Cleandro.

INSENSIBILIZAÇÃO

“Bem-estar animal e a prática de insensibilização de animais a campo” foi o tema da segunda palestra do 15º SBSS, com o médico veterinário, mestre e doutor em Zootecnia Filipe Dalla Costa, durante o painel “Uso Prudente de Antimicrobianos e Bem-Estar Animal”. O palestrante reforçou que o tema sobre bem-estar animal vem crescendo mundialmente, principalmente pelo interesse do consumidor em como os alimentos são produzidos. “Isso abre um leque não só para o bem-estar dos animais, mas também para o bem-estar humano e da sustentabilidade”.

Filipe abordou sobre insensibilização para a eutanásia dos animais a campo. Na indústria da carne suína, diversos problemas ocasionais tornam necessário o sacrifício emergencial dos animais. Os motivos podem incluir desde doenças virais e bacterianas graves, pragas, acidentes durante transporte ou trato, até malformações congênitas.

Salientou que esse trabalho envolve questões de treinamentos, qualificações e equipamentos adequados. “Uma prática adequada de eutanásia traz benefícios para o animal. Realizá-la de forma humanitária é induzir o animal à inconsciência de maneira rápida, sem que ele tenha um sofrimento desnecessário. Por isso, é necessário ter pessoas qualificadas, para a identificação do momento ideal de realizar a eutanásia. Também é uma questão sanitária, porque muitas vezes as pessoas esperam para fazer a eutanásia, na esperança de que o animal se recupere, mas ele pode ficar como um reservatório de doenças e isso prejudica a sustentabilidade do sistema”, alertou.

O palestrante apresentou pesquisa sobre o tema que mostra os principais métodos para o procedimento e que muitos profissionais se sentem desconfortáveis quando não há um método adequado. “Esse desconforto pode perdurar por um dia ou mais com sensações até mesmo de depressão, o que pode indicar perda da qualidade do trabalho e também efeito psicológico a longo prazo. Abordar a questão da eutanásia é essencial para melhorar o bem-estar da saúde dos animais e dos seres humanos e para contribuir também com a sustentabilidade do sistema. Por isso, é importante trabalhar com plano de contingência e métodos já validados”, finalizou Filipe.

SOBRE O SBSS

O 15º Simpósio Brasil Sul de Suinocultura é promovido pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet) e segue até quinta-feira (10), no Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes, em Chapecó (SC), no formato híbrido. Simultaneamente ocorrem a 14ª Brasil Sul Pig Fair e a Granja do Futuro, presencialmente. Durante o SBSS, 16 palestras contribuirão para atualizar os profissionais que atuam na cadeia suinícola. A programação é organizada em seis painéis que abordam o uso prudente de antimicrobianos e bem-estar animal; nutrição; pessoas; reprodução e manejo de leitões; mercado e governança social e ambiental; sanidade e biosseguridade.

APOIO

O 15º SBSS tem apoio da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), do Conselho Regional de Medicina Veterinária de SC (CRMV/SC), da Embrapa Suínos e Aves e da Sociedade Catarinense de Medicina Veterinária (Somevesc).

Fonte: MB