Leury Jesus de Souza*

A alta prolificidade das atuais linhagens genéticas, com aumento da média de nascidos totais, reflete a eficiência da seleção genética no desenvolvimento de matrizes hiperprolíficas. No entanto, a capacidade da matriz em desenvolver um número maior de conceptos não acompanhou este crescimento, o que resultou em uma redução do peso médio dos leitões e aumento da desuniformidade da leitegada (KAPELL et al., 2011).

Pode-se considerar leitões de baixa viabilidade todos aqueles nascidos abaixo de dois desvios padrões em relação à média da leitegada (Ashworth et al.,2001). Dentre os leitões de baixo peso, podemos citar a ocorrência do Crescimento intrauterino retardado (CIUR). Porém nem todos os leitões de baixa viabilidade podem ser considerados CIUR.

Os leitões CIUR podem ser identificados por algumas alterações morfológicas que os caracterizam: os órgãos são afetados, tendo seu tamanho reduzido, no entanto, o cérebro não sofre essa redução. A relação entre o peso do cérebro e os demais órgãos aumenta em leitões desta categoria.

Outras características como o formato da cabeça (cabeça de golfinho ou martelo) e olhos proeminentes também são indicativos da ocorrência de CIUR.

Figura 1. Ilustração de leitão considerado normal e leitão com crescimento intrauterino retardado (CIUR). Adaptado de Hales et al. (2013).

Dentre os fatores com maior influência no desenvolvimento placentário, podemos citar:

– a idade da matriz suína,
– a ordem de parto,
– linhagem genética,
– tamanho da matriz.

E alguns fatores externos como, por exemplo:

– ingestão de substâncias tóxicas,
– estresse causado por desconforto ambiental (principalmente ambientes com temperatura fora do conforto térmico),
– patogenias que podem causar desequilíbrio na transferência de nutrientes e oxigênio materno-fetal,
– e a nutrição.

Nutrição Materna e ocorrência de CIUR

A nutrição materna tem influência direta na ocorrência de CIUR. Dietas desbalanceadas, principalmente em relação ao nível de proteína e energia, podem influenciar no aumento de leitões com CIUR (WU et al., 2006).

Alguns estudos demonstram que há nutrientes que podem afetar positivamente na redução do número de leitões com crescimento retardado, como por exemplo, a carnitina e a arginina. Ramanau et al. (2005), Musser et al. (2007) e Ramanau et al. (2008) relataram, dentre outros benefícios da carnitina, uma melhora significativa no peso do leitão ao nascimento.

Quanto à arginina, acredita-se que por ser um percurso de poliamina e óxido nítrico, importantes no desenvolvimento embrionário, ela seja um forte aliado na redução da ocorrência de CIUR nas granjas. BERARD et al. (2010), MATEO et al. (2007) e GAO at al. (2012) relataram que o uso de arginina melhorou o peso dos leitões ao nascer e aumentou o número de nascidos vivos de matrizes suplementadas.

Em relação à suplementação de arginina, esse aminoácido é o precursor de outros compostos essenciais para o bom desenvolvimento intrauterino, sendo o principal o óxido nítrico e poliaminas.

O óxido nítrico tem um papel importante no desenvolvimento da placenta, além de auxiliar na angiogênese, atuando na regulação do fluxo sanguíneos entre mãe e feto, ou seja, interferindo diretamente na troca de gases (oxigênio) e nutrientes. As poliaminas também desempenham a função de desenvolvimento da placenta e angiogênese, além de atuar na multiplicação e diferenciação celular, funções essenciais no desenvolvimento embrionário.

É importante que o nutricionista formule dietas que considerem a mobilização de matrizes hiperprolificas, entendendo a maior demanda nutricional desta fase. Para isso, deve atentar a alguns pontos:

1) Utilizar níveis de vitaminas mais elevados, com atenção especial à formação das leitoas.

2) Utilizar produtos complementares, on top, para fazer correções em relação às necessidades de cada fase gestacional ou lactacional.

3) No terço inicial de gestação, o foco deve ser na sobrevivência embrionária, equilíbrio das perdas lactacionais, embriões robustos, boa implantação e vascularização placentária.

4) Para o terço médio da gestação, a dieta deve suprir o desenvolvimento muscular, diferenciação de fibras e a manutenção da condição corporal das matrizes.

5) Já no terço final, o nutricionista deve se ater ao nível de lisina para dar aporte nutricional ao ganho de peso da leitegada, manutenção da matriz e a relação energia:lisina para a formação de úbere e produção de colostro.

6) Além disso, utilizar aditivos antioxidantes para reduzir os efeitos do catabolismo nas matrizes.

Considerações finais

A ocorrência de CIUR é uma realidade nas granjas de suínos que trabalham no sistema intensivo de produção. Adotar medidas que melhorem a nutrição das matrizes, visando tornar mais eficiente o desenvolvimento da placenta, angiogênese e, consequentemente, a nutrição fetal, pode minimizar os efeitos negativos desta ocorrência.

*Leury Jesus de Souza é consultor de serviços técnicos de suínos na Agroceres Multimix

Fonte: Agroceres Multimix