O dólar voltou a fechar em alta nesta sexta-feira, chegando a superar 5,18 reais após cair à faixa de 4,99 reais dois dias atrás, com o mercado local descolando de pares conforme investidores buscaram proteção, já que os negócios domésticos serão retomados apenas na quarta-feira pós-Carnaval.

As rolagens de contratos futuros e outros derivativos, típicas de fim de mês e na virada da Ptax (taxa de câmbio calculada pelo Banco Central), também adicionaram pressão às cotações, enquanto operadores citaram o longo feriado prolongado no Brasil como argumento para realizar lucros depois de forte valorização cambial nas últimas semanas.

Entre a máxima do ano –de 5,7128 reais, do dia 5 de janeiro– e a mínima desta semana, de 5,0033 reais, o dólar despencou 12,42%.

Na quinta, a moeda à vista já havia subido cerca de 2%, e nesta sexta ganhou mais 1,01%, a 5,1563 reais, maior valor desde o último dia 17 (5,1668 reais).

O dólar até esboçou queda –ainda no começo do pregão chegou a recuar 0,51%, a 5,0789 reais–, mas no decorrer dos negócios as compras prevaleceram. Por volta de 15h (de Brasília), a cotação foi a 5,182 reais, alta de 1,51%.

O real, de longe, teve o pior desempenho entre as principais moedas globais nesta sessão, enquanto vários de seus pares –peso mexicano (+0,8%) e peso chileno (+1,8%), por exemplo– exibiram firme valorização.

As praças financeiras globais mostraram rali de ativos de risco nesta sexta, dando sequência a um movimento iniciado na tarde de quinta.

Após semanas de alertas de líderes ocidentais, o presidente russo, Vladimir Putin, desencadeou uma invasão tripla da Ucrânia pelo norte, leste e sul na véspera, no maior ataque a um Estado europeu desde a Segunda Guerra Mundial e que ameaça acabar com a ordem pós-Guerra Fria no continente.

Putin instou militares da Ucrânia a derrubar seus líderes políticos e negociar a paz nesta sexta-feira, enquanto as autoridades de Kiev pediram aos cidadãos que ajudem a defender a capital de um ataque russo que seu prefeito disse já ter começado.

Estrategistas do Bank of America alertam para “call” favorável ao dólar e chamam atenção para a política monetária norte-americana, cujas discussões nesta semana dividiram os holofotes com a crise geopolítica.

“Em nossa opinião, a divergência de política monetária dos EUA ainda não seguiu seu curso, ainda que BCE (BC europeu) e BoJ (do Japão) deem pequenos passos em direção à normalização da política monetária este ano. É por isso que continuamos otimistas com o dólar”, disseram em relatório.

Eles notaram, contudo, que diante da turbulência desta semana o real mostrou aumento de volatilidade em linha com o histórico, enquanto outras moedas emergentes, como o peso mexicano, experimentaram um surto maior de instabilidade.

Estudo do Citi mostra que o real é a moeda latino-americana com maior beta (uma medida de sensibilidade) em relação ao rublo russo, o que em tese deixaria a moeda brasileira mais vulnerável a eventuais contágios da crise por lá.

Mas ao mesmo tempo eles pontuaram que as posições “compradas” em real –ou seja, que ganham com a valorização da divisa– “normalizaram-se” desde as máximas deste ano, indicando que investidores locais não estão significativamente posicionados na moeda brasileira.

Na teoria, isso amenizaria riscos de uma realização de lucros mais ampla que pudesse empurrar o dólar muito mais para cima, depois da queda quase ininterrupta da divisa desde o começo do ano.

“Acreditamos que o real ainda tem motivos para um bom desempenho, mas acreditamos que podemos continuar vendo uma correção de curto prazo, especialmente se as tensões geopolíticas permanecerem altas”, disseram estrategistas do banco norte-americano em relatório.

Mesmo reduzindo os ganhos no fim do mês, o real ainda terminou fevereiro com a melhor performance global e segue na liderança também em 2022.

A alta do dólar nesta sexta se somou ao salto de cerca de 2% da véspera. Com isso, a moeda aumentou 3,13% em dois dias, ritmo mais intenso nessa comparação desde julho de 2021. Foi o suficiente para a moeda zerar as perdas na semana e fechar o período com valorização de 0,28%. É a primeira vez desde a semana finda em 7 de janeiro que o dólar acumula ganho semanal.

A cotação amenizou as perdas em fevereiro para 2,82%. De toda forma, é a primeira vez que o dólar perde valor no mês desde 2017 e a queda é a mais intensa desde 2010 (-4,66%).

O dólar engatou o quarto mês de baixas ante o real, declínio de 8,61% no período. É a mais longa sequência negativa para a moeda norte-americana desde o último quadrimestre de 2009, quando os mercados globais tentavam se recuperar do caos gerado pela grande crise financeira que havia estourado no ano anterior.

“Na semana que vem, as atenções globais irão se manter concentradas sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia, bem como as reações das principais potências à invasão em larga escala que está sendo conduzida. Mercados acompanharão de perto o eventual anúncio de novas sanções, e o avanço das forças russas no território ucraniano”, disse o Itaú Unibanco em relatório.

Fonte: Reuters