O dólar perdeu fôlego depois de chegar a saltar mais de 2% nesta quinta-feira, acima de 5,38 reais, mas continuava em território positivo na esteira de uma leitura de inflação norte-americana mais alta do que o esperado, que pode forçar o Federal Reserve a intensificar o ritmo de seu já agressivo aperto monetário.

Às 11:56 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,24%, a 5,2848 reais na venda, desacelerando os ganhos depois de saltar 2,08% no pico do dia, a 5,3820 reais, nível que não era visto há quase duas semanas, em reação inicial aos dados dos Estados Unidos.

Na B3, às 11:56 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,17%, a 5,3060 reais.

O arrefecimento dos ganhos do dólar no mercado local acompanhou a reversão da alta de um índice que mede a moeda norte-americana contra uma cesta de seis pares fortes, que passou a rondar a estabilidade no final da manhã, depois de mais cedo chegar a avançar mais de 0,6%.

Várias divisas arriscadas a cujo movimento o real é sensível também moderaram suas perdas no dia, com rand sul-africano, dólar australiano e peso chileno cedendo de 0,5% a 0,9%, depois de caírem mais de 1% na esteira dos dados de inflação dos EUA.

Investidores do mundo inteiro encontravam algum conforto em notícias de que o governo britânico estaria considerando mudar seus planos de cortes de impostos, que desencadearam ondas de estresse no mercado de títulos do Reino Unido a partir do final de setembro, contaminando o apetite por risco em outras praças globais.

No entanto, a inflação continuava sendo motivo de cautela, depois que o índice de preços ao consumidor norte-americano subiu 0,4% no mês passado, acelerando a alta depois de avançar 0,1% em agosto, disse o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos nesta quinta-feira. Economistas consultados pela Reuters previam alta de 0,2%.

A surpresa para cima reforçou as expectativas de que o Federal Reserve adotará uma quarta alta consecutiva de 0,75 ponto percentual nos juros em sua reunião do próximo mês, e surgiu a possibilidade –antes desconsiderada– de o banco central promover ajuste ainda mais agressivo, de 1 ponto completo.

Operadores turbinaram as apostas de que Fed acabará elevando sua taxa básica para uma faixa de 4,75% a 5% até março do próximo ano, conforme enfrenta uma inflação muito mais persistente do que o esperado inicialmente.

Arthur Mota, da equipe de estratégia e macro do BTG Pactual, disse em publicação no Twitter que os dados desta quinta-feira não oferecem qualquer sinal de que a inflação norte-americana atingiu seu pico sob medidas avaliadas com mais cuidado pelo mercado, como o núcleo, que exclui os preços de componentes voláteis.

“Não há espaço para ‘pivot dovish'”, disse ele, referindo-se à possibilidade de o Federal Reserve abrandar o seu posicionamento de política monetária, que chegou a ser considerada por parte dos mercados mais cedo neste mês.

Quanto mais agressivo é o Fed no aumento dos juros, mais o dólar tende a se beneficiar globalmente, conforme investidores redirecionam capital para o mercado de renda fixa dos EUA. Além disso, o aperto rígido do banco central tem levantado temores de recessão, o que vem elevando a demanda pela segurança da divisa norte-americana.

Fonte: Reuters