O dólar alternava altas e quedas contra o real nesta quinta-feira, em meio a negociações voláteis, com participantes do mercado digerindo a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), que aumentou suas taxas de juros pela primeira vez em mais de uma década.

A taxa de depósito do BCE foi elevada em 0,50 ponto percentual, para 0%, num esforço para conter a inflação recorde na zona do euro.

Na esteira da decisão, o euro chegou a subir acentuadamente, mas logo devolveu seus ganhos. Por volta de 10h30 (de Brasília), a divisa única caía 0,08%, a 1,0169 dólar, depois de ter saltado a 1,0278 dólar instantes depois do aperto do BCE.

Os breves ganhos do euro chegaram a desencadear forte desvalorização do índice do dólar contra uma cesta de rivais fortes, mas a moeda norte-americana se recuperou e era negociada em alta de 0,20% por volta de 10h30.

Acompanhando de perto o movimento visto lá fora, às 10:31 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,30%, a 5,4768 reais na venda, depois de ter chegado a cair 0,56% na mínima do dia, a 5,4297 reais, imediatamente após a decisão do BCE.

O comportamento do real estava em linha com a oscilação de outras moedas de países emergentes ou exportadores de commodities, como dólar australiano, peso mexicano e peso chileno.

Na B3, às 10:31 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,04%, a 5,4885 reais.

Até poucos dias atrás, o cenário precificado pelo mercado –baseado em indicações anteriores do próprio BCE– era de alta de juros de apenas 0,25 ponto percentual. Havia há tempos no mercado a percepção de que a autoridade monetária da zona do euro estava atrasada na elevação de suas taxas, principalmente quando comparado ao Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos.

Num geral, quanto mais altos os custos dos empréstimos em determinada economia, mais sua moeda tende a se beneficiar, já que juros elevados impulsionam os retornos da renda fixa local, atraindo investimentos estrangeiros. Por outro lado, condições monetárias mais apertadas podem levantar a ameaça de desaceleração do crescimento econômico, o que pode eventualmente pesar no sentimento dos mercados globais.

“O receio é de aprofundar o continente em um processo recessivo, que já sofre com o desaquecimento da economia e uma escalada de preços de energia pelo conflito na Ucrânia”, disseram estrategistas da Levante Investimentos em relatório.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, por outro lado, avaliou a decisão do BCE como correta, diante da disparada da inflação na zona do euro. “É bom apertar as condições monetárias agora, onde a atividade não dá sinais tão claros assim de desaceleração, e o mercado de trabalho está bem aquecido.”

Passado o efeito do encontro de política monetária do BCE, investidores devem voltar as atenções para o próximo encontro do Federal Reserve, na semana que vem. A expectativa dos mercados é de que o Fed repita aumento de juros de 0,75 ponto percentual na ocasião, e qualquer sinalização mais dura da instituição pode jogar a favor do dólar.

No Brasil, investidores começavam a mostrar preocupação cada vez maior com a cena política, à medida que as eleições presidenciais se aproximam. O PT realizava nesta quinta-feira convenção para formalizar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência do Brasil.

Com o desempenho desta manhã, o dólar ficava a valorização de apenas 1,7% de zerar completamente suas perdas frente ao real em 2022.

Fonte: Reuters