O dólar reverteu perdas inicias e passou a subir frente ao real nesta quinta-feira, acompanhando a manutenção de cautela sobre altas de juros no exterior e com investidores à espera da conclusão de reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), conforme seguem monitorando o clima entre o governo e o Banco Central.

Às 10:36 (horário de Brasília), o dólar à vista avançava 0,49%, a 5,2439 reais na venda.

Na B3, às 10:36 (horário de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,5%, a 5,2535 reais.

O CMN, responsável por definir as metas de inflação a serem perseguidas pelo BC, é formado atualmente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad; pela ministra do Planejamento, Simone Tebet; e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O encontro do colegiado, nesta quinta-feira, vem após pesadas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aliados à taxa de juros e ao nível do objetivo de alta de preços, atrito que tem pressionado os ativos brasileiros desde a semana passada.

“Os riscos são diversos, inclusive esse de termos uma pressão indevida sobre o BC em relação à taxa de juros. A gente não pode dizer que o BC não tem sido zeloso na conduta da política monetária. O questionamento não é próprio em determinados momentos… e quando o ‘timing’ não é adequado, você acaba transbordando o risco para outras variáveis, como o câmbio”, disse à Reuters Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama.

Por outro lado, Haddad afirmou nesta semana que a meta de inflação não está na pauta do encontro do CMN, depois de rumores de que Lula teria pedido que o objetivo, hoje em 3,25% para este ano, fosse aumentado em 1 ponto percentual.

Dando algum suporte ao sentimento do mercado, fontes disseram à Reuters que a ordem no governo é baixar a temperatura e deixar o assunto fora do Palácio do Planalto, uma posição que Lula vem sendo convencido a abraçar.

De qualquer forma, disse Espirito Santo, a incerteza sobre a meta de inflação e os recentes ataques de Lula ao BC, associados à expectativa de que o Federal Reserve continue subindo os juros, têm mantido o dólar acima de seu “ponto de equilíbrio”, que a Órama estima em 4,80 reais.

No exterior, o índice que compara o dólar a uma cesta de pares fortes devolveu perdas de mais cedo e passou a subir ligeiramente nesta manhã, mantendo-se em patamar elevado após salto recente desencadeado por números econômicos fortes nos Estados Unidos.

“O mercado por um lado começa a afastar o receio de uma recessão nos EUA, mas por outro lado começa a se preocupar novamente com a inflação. E, nesse contexto, volta à pauta o Fed e sua política monetária”, disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, atribuindo esses temores à alta do dólar nesta quinta-feira.

Juros mais altos nos EUA tendem a beneficiar o dólar globalmente, à medida que atraem recursos para o mercado de renda fixa norte-americano, elevando a demanda pela moeda local.

Apesar da pressão recente sobre o real, o esforço do governo Lula para retomar o protagonismo em relação às questões climáticas no Brasil tende a atrair recursos de investidores estrangeiros para o país, disse Espirito Santo, o que deve eventualmente derrubar o dólar de volta abaixo dos 5 reais.

Além disso, acrescentou o economista, o mercado recebeu bem a indicação de Haddad de que o Ministério da Fazenda pretende entregar um plano de arcabouço fiscal já no mês que vem.

“Se a gente conseguir endereçar o problema fiscal e conseguir tocar a reforma tributária de maneira justa, essas duas atitudes do governo são importantes para voltar a dar previsibilidade para o mercado… Numa situação de médio prazo, o câmbio tende a convergir para 4,80”, completou ele.

Fonte: Reuters