O dólar caía frente ao real logo após a abertura desta terça-feira, com investidores ajustando posições depois de na véspera a moeda ter saltado mais de 1%, enquanto o mercado entrava em compasso de espera antes da votação da PEC da Transição em comissão do Senado e da decisão de política monetária do Banco Central.

Por volta de 10h34 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,54%, a 5,2553 reais na venda.

Na B3, o dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,56%, a 5,2805 reais.

Denilson Alencastro, economista-chefe da Geral Asset, disse à Reuters que o movimento desta terça-feira é, em grande parte, um ajuste em relação à última sessão, quando o dólar à vista fechou em alta de 1,35%, a 5,2844 reais na venda.

Essa foi a maior valorização percentual diária desde 25 de novembro (+1,84%) e o patamar de encerramento mais alto desde terça-feira passada (5,2883), movimento que foi impulsionado por temores sobre o tamanho da PEC da Transição, além de dúvidas sobre o espaço que o Federal Reserve terá para desacelerar seu aperto monetário.

Para além de razões técnicas, o dólar também era pressionado nesta manhã pelo retorno de esperanças de que a PEC será desidratada no Congresso, disse Alencastro.

Embora o governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva pareça determinado a garantir fortes gastos na PEC da Transição, o tempo de vigência da proposta deve ser reduzido para dois anos, em vez dos quatro inicialmente estimados.

O relator da PEC, senador Alexandre Silveira (PSD-MG), apresentou parecer à Comissão de Constituição e Justiça do Senado propondo expandir o teto de gastos em 175 bilhões de reais em 2023 e 2024 para abarcar dentro da regra fiscal as despesas com o Bolsa Família, em vez de excetuar os gastos sociais da regra como o governo eleito havia proposto.

O texto ainda estabelece que o presidente da República deverá encaminhar ao Congresso, até 31 de dezembro de 2023, projeto de lei complementar com o objetivo de instituir um “regime fiscal sustentável para garantir a estabilidade macroeconômica do país e criar as condições adequadas ao crescimento socioeconômico”.

Conforme as negociações da PEC continuam, alguns participantes do mercado seguem acreditando na possibilidade de moderação dos gastos embutidos no texto. “No geral, continuamos esperando que o projeto de lei seja diluído ao longo do processo, com nosso cenário base incorporando gastos públicos extra não financiados de 150 bilhões de reais em 2023, valor que decairia nos anos seguintes”, avaliou o Citi em relatório desta terça-feira.

Investidores também ficavam de olho na reunião de dois dias do Comitê de Política Monetária do BC, que se encerrará na quarta-feira.

Embora haja consenso no mercado de que a taxa Selic será mantida nos atuais 13,75%, o mercado estará atento a qualquer indicação do Copom sobre como as atuais incertezas fiscais podem afetar decisões de juros.

De acordo com Jefferson Rugik, presidente-executivo da Correparti Corretora, a depreciação do dólar frente ao real nesta sessão também era reflexo da fraqueza da divisa norte-americana no exterior. Vários pares arriscados do real avançavam no dia, com dólar australiano, peso chileno e rand sul-africano ganhando de 0,6% a 0,9%.

O humor dos investidores internacionais era sustentado pelas esperanças de que a China reduzirá em breve sua rígida política de combate à Covid-19.

Fonte: Reuters