O dólar subia frente ao real nesta sexta-feira, conforme investidores monitoravam os desdobramentos envolvendo a guerra na Ucrânia, embora a disparada dos preços das commmodities e o ambiente doméstico de juros altos mantivessem percepção de viés positivo para a moeda brasileira.

Às 10:11 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,67%, a 5,0605 reais na venda. A moeda estava sendo negociada nos picos da sessão, depois de ter caído 0,07% na mínima, a 5,0234 reais.

Na semana, que não teve negociações na segunda e na terça devido ao Carnaval, o dólar caminhava para registrar baixa de 1,9%.

Na B3, às 10:11 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,44%, a 5,0970 reais.

Apesar da valorização desta manhã, a moeda norte-americana estava longe de recuperar o total das fortes perdas registradas na véspera, quando fechou em baixa de 1,62%, a 5,0268 reais.

Vanei Nagem, sócio proprietário da Pronto!Invest, chamou a movimentação do dólar de um “suspiro”, conforme investidores do mundo se mostravam nervosos com notícias de um incêndio próximo a uma usina nuclear na Ucrânia tomada por tropas russas.

Posteriormente, o fogo foi controlado, segundo autoridades, mas o índice do dólar ante uma cesta de rivais fortes continuava em expressiva alta no dia, de 0,9%, conforme a guerra no país do leste europeu se arrastava para sua segunda semana.

No mercado de ações, as principais bolsas europeias recuavam de 1% a 4,6%, com os futuros de Wall Street também em firme queda.

No entanto, o dólar australiano, sensível aos preços das commodities, subia 0,26%, a 0,7348 dólar norte-americano.

Moedas de países exportadores de petróleo, metais, milho e trigo, entre outras commodities, têm sido beneficiadas pela escalada dos conflitos na Ucrânia, já que temores de interrupção da oferta impulsionaram os preços desses produtos a máximas em vários anos.

Em relatório divulgado na noite de quinta-feira, estrategistas do Citi disseram que o real, como uma dessas divisas sensíveis às commodities, está “sendo negociado como um refúgio seguro” em meio à alta dos preços provocada pela tensão geopolítica.

Nagem, da Pronto!Invest, concorda que o real não escapa dessa tendência de valorização cambial vista em vários países exportadores, já que as commodities formam grande parte da pauta de exportação do Brasil, mas acredita que o principal impulso para a divisa local é o patamar elevado dos juros.

“A alta das commodities ajuda, mas (o dólar) está caindo porque os juros brasileiros estão muito altos, enquanto lá fora seguem em patamares baixos. Aí continua entrando muito dinheiro no Brasil”, afirmou, acrescentando acreditar que o dólar pode buscar pisos em torno de 4,80 reais no curto prazo.

Custos de empréstimos mais altos no Brasil tendem a tornar o real mais atraente para estratégias que buscam lucrar com diferenciais de juros entre dois países. Enquanto a taxa Selic está em 10,75% ao ano, os juros na maior economia do mundo, os Estados Unidos, estão num intervalo próximo de zero.

Mas o chair do banco central norte-americano, Jerome Powell, indicou nesta semana que o Federal Reserve elevará a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual neste mês. Um relatório de emprego norte-americano desta sexta-feira, a ser divulgado às 10h30 (horário de Brasília), pode oferecer mais pistas sobre os próximos passos da autoridade monetária.

Além disso, investidores digeriam dados sobre a economia brasileira. O Produto Interno Bruto (PIB) registrou em 2021 crescimento de 4,6%, maior taxa desde 2010, quando houve expansão de 7,5%, segundo dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Fonte: Reuters