O dólar alternava altas e baixas frente ao real nesta quarta-feira, em sessão instável por se tratar do último dia do mês, ora acompanhando a percepção de que a PEC da Transição será desidratada no Congresso, ora refletindo incertezas sobre a composição do Ministério da Fazenda do governo eleito.

Por volta de 10h24 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,31%, a 5,3019 reais na venda, depois de mais cedo ter chegado a cair 0,83%, a 5,2443 reais.

A sessão era de volatilidade elevada, o que investidores atribuíam à formação da Ptax –taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para liquidação de derivativos– de novembro. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar, o que geralmente eleva a volatilidade.

“Os comprados estão tentando mostrar sua força na disputa pela Ptax de fim de mês”, avaliou Jefferson Rugik, presidente-executivo da Correparti Corretora.

Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,58%, a 5,3040 reais.

Apesar do vaivém do dólar nesta manhã, persistia no mercado financeiro a esperança de que o texto da PEC da Transição –que atualmente propõe gastos extrateto de quase 200 bilhões de reais por quatro anos– possa ser lapidado durante tramitação no Congresso.

“O principal é o alinhamento do novo governo e o Senado; a PEC deve andar bem, com expectativa de que fique abaixo do valor pretendido inicialmente”, disse à Reuters Bruno Mori, economista e planejador financeiro pela Planejar. “Essa desidratação traz um pouco de alívio.”

Por outro lado, investidores continuavam incertos sobre quem será o escolhido de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para chefiar o Ministério da Fazenda, o que infligia instabilidade aos negócios.

Após semanas tendo quase como certa a indicação do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) à pasta, alguns agentes financeiros reagiram bem a reportagem de terça-feira do Poder 360 de que Lula teria voltado a cogitar a nomeação do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, nome mais moderado, de forma a apaziguar os mercados.

“Continuamos em um ambiente onde ‘balões de ensaio’ são utilizados por Lula para testar a sociedade e o mercado. Com uma visibilidade mais baixa, é natural que tenhamos que conviver com uma volatilidade mais alta, sem grandes tendências nos ativos locais”, disse Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos, em nota a clientes.

No exterior, o foco nesta quarta-feira recaía sobre o Federal Reserve, antes de discurso do chair Jerome Powell, que pode trazer pistas sobre qual será a trajetória de aperto monetário do banco central norte-americano a partir de dezembro.

Segundo Mori, da Planejar, sinalizações de Powell no sentido de desacelerar o ritmo de altas de juros podem pressionar o dólar globalmente, abrindo espaço para a valorização de moedas de países emergentes.

“Se, ao invés de o Fed subir os juros em 0,75 (ponto percentual), subir 0,50 (em dezembro), isso traria um certo conforto; a moeda reflete o que seus juros locais pagam”, disse o economista. Quanto mais altos são os custos dos empréstimos em determinado país, mais sua divisa tende a se beneficiar, e vice-versa.

A moeda norte-americana negociada no mercado interbancário fechou a última sessão em queda de 1,42%, a 5,2883 reais, menor patamar para encerramento desde o último dia 9 (5,1845).

Fonte: Reuters