Por Jorgelina do Rosario e Libby George

BUENOS AIRES/LONDRES (Reuters) – A forte vitória do ultraliberal de extrema-direita Javier Milei nas eleições presidenciais da Argentina pode impulsionar os títulos e as ações, mas pressionar para baixo o peso, disseram investidores nesta segunda-feira.

O radical, que prometeu “queimar” o banco central e dolarizar a economia, venceu o ministro da Economia peronista, Sergio Massa, na votação de domingo, e adotou um tom comedido em seu primeiro discurso como presidente eleito.

Os mercados do país sul-americano estão fechados nesta segunda-feira por causa de um feriado local. Mas seus títulos em dólar, emitidos internacionalmente e, em grande parte, negociados em território de risco, a cerca de 30 centavos de dólar, estavam praticamente estáveis no início das negociações.

Uma negociação mais ativa é esperada após a abertura dos mercados dos Estados Unidos.

Diego W. Pereira, do JPMorgan, disse em uma nota a clientes no final do domingo que não mudaria sua recomendação sobre os títulos internacionais da Argentina, de “market weight”.

“Embora esperemos que o resultado seja construtivo para as avaliações no prazo imediato, a incerteza persistente em torno da trajetória da política econômica de Milei, as capacidades de execução e a frágil posição econômica da Argentina ainda pesarão sobre os preços”, disse Pereira.

As ações de empresas argentinas listadas nos EUA, incluindo o Banco BBVA Argentina, o Grupo Financiero Galicia e a empresa petrolífera YPF, ganhavam entre 5,4% e 9,6% no início das negociações.

Milei só assumirá o cargo em 10 de dezembro, e os investidores observaram que ele não se referiu à “dolarização” em seu primeiro discurso, levantando dúvidas sobre a rapidez com que poderá tentar eliminar totalmente o peso.

Ele prometeu reformas rápidas para consertar uma economia atolada na crise. A inflação está em 143%, as reservas de moeda estrangeira estão em mais de 10 bilhões de dólares no vermelho e uma recessão se aproxima. Ele também sinalizou moderação e agradeceu a seus principais apoiadores conservadores, Mauricio Macri e Patricia Bullrich.

“É indiscutível que é imperativo uma mudança rápida das políticas econômicas fracassadas do passado. Os desequilíbrios acumulados na economia cresceram demais e devem ser tratados prontamente”, disse Sergio Armella, do Goldman Sachs, em uma nota.

O peso perdeu terreno nas bolsas de criptomoedas, observadas pelos investidores como medida para o mercado paralelo. Bruno Gennari, especialista em Argentina da KNG Securities, disse que o peso estava sendo negociado a cerca de 1.009 em relação ao dólar nas bolsas de criptomoedas no início da segunda-feira, marcadamente mais fraco do que os níveis de 869 a 975 na sexta-feira.

Milei aproveitou uma onda de raiva dos eleitores, prometendo durante sua campanha um agressivo plano “motoserra” para cortar os gastos estatais e o tamanho do governo.

Walter Stoeppelwerth, estrategista-chefe da empresa financeira Gletir, disse que Milei precisa se manter firme, apesar do medo real dos eleitores em relação ao sofrimento causado pela da austeridade, com dois quintos da população já na pobreza.

“O fator determinante é o compromisso fiscal. Se Milei conseguir convencer o mercado de que a motosserra (disciplina fiscal) é o coração e a alma de sua presidência, então os títulos vão subir”, disse ele. “Se ele avançar em direção à unificação do câmbio, isso também será positivo. Ele não pode se equivocar.”

Milei será impulsionado por uma votação maior do que o esperada de 56% no segundo turno, depois de ter obtido 30% no primeiro turno no mês passado. Mas ele ainda enfrenta um Congresso dividido, onde seu bloco tem apenas uma pequena parcela de assentos.

“Ter um resultado retumbante como o de ontem (…) dá a ele um forte mandato público, especialmente devido à sua posição de fraqueza no Congresso”, disse Jimena Blanco, diretora das Américas da Verisk Maplecroft.

(Reportagem adicional de Walter Bianchi, Jorge Otaola e Hernán Nessi)

Fonte: Reuters

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