A China cancelou compras de soja dos Estados Unidos, segundo dados divulgados pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) nesta quinta-feira (18) para se reposicionar aqui no Brasil, analisou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting. “Ela cancelou compra de 119,2 mil toneladas da safra 2022/23 feitas na semana passada e isso acabou dando mais um banho de água fria no mercado”, disse.

Ainda segundo explicou o especialista, os preços mais atrativos no mercado brasileiro chamam a nação asiática e vão garantindo uma demanda ainda melhor para o produto brasileiro. Os prêmios para os embarques mais curtos no mercado nacional seguem negativos que se somam a perdas intensas e frequentes na CBOT para efetivar negócios mais vantajosos.

E os preços ainda são, de fato, mais atrativos nos contratos mais curtos mesmo com uma melhora significativa dos prêmios pagos à soja brasileira, que chegaram a testar até 230 cents de dólar negativos, marcando suas mínimas em mais de duas décadas. Agora, o junho tem prêmios negativos entre 50 e 75 centavos de dólar negativos, julho de 25 a 55 cents negativos e para agosto, os indicativos já passam a operar do lado positivo da tabela e vão melhorando até outubro.

Brandalizze complementa dizendo que, depois das entregas americanas, é quando os preços da soja começam a melhorar no Brasil. “As entregas americanas começam no mês de novembro. As posições janeiro, março, maio já são melhores, é a zona de transição. O novembro perdeu os US$ 12,00, mas o vejo firme para segurar os US$ 11,50”, diz.

Assim, os preços atrativos para os chineses – os maiores compradores de soja do mundo – são os menores base porto do ano no mercado brasileiro – os maiores vendedores de soja do mundo. As referências nos principais terminais testaram níveis entre R$ 136,50 e R$ 138,00 por saca, no junho, e “o porto que paga melhor é Rio Grande com R$ 138,00”, explica o consultor. Para julho indicações de R$ 139,50 – Paranaguá – a R$ 141,00 – Rio Grande, já em setembro, R$ 145,00 em ambos. Para outubro, as posições já testam até R$ 148,00, refletindo, principalmente, uma melhora mais significativa dos prêmios.

O consultor relatou ainda que os preços no mercado de balcão também testam os menores níveis do ano, tendo caído atré R$ 2,00 por saca, em média, nesta quinta-feira. “Mas a partir de amanhã deve trabalhar com certa estabilidade e em Chicago podendo até mesmo testar alguma correção técnica”.

Se a soja da safra 2022/23 do Brasil está mais barata para a China, nos vencimentos mais a frente, já referentes à safra 2023/24 dos Estados Unidos ganha competitividade e o país tem buscado também garantir estes negócios.

“Os prêmios da soja no Brasil acumulam alta de US$ 1,10 por bushel para os embarques de junho a agosto, enquanto os prêmios no Golfo caíram 30 centavos. Hoje, a soja americana para embarque outubro já é mais barata em relação à soja brasileira em setembro. Traders comentam sobre mais negócios nos EUA nesta madrugada”, explica a equipe da Agrinvest Commodities.

Se da safra 2022/23 a China cancelou compras nos EUA, da safra 2023/24, ainda de acordo com os números do relatório semanal de vendas para exportação trazido nesta quinta pelo USDA, comprou 187 mil toneladas. O volume total das vendas da safra nova, na última semana, foi de 663,8 mil toneladas.

As vendas da nova temporada norte-americana estão bastante lentas, com o produtor também bastante reticente em efetivar novos negócios frente aos atuais patamares de preços. Em sua última entrevista ao Notícias Agrícolas, o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, explicou que os EUA venderam perto de dois milhões de toneladas de soja apenas, contra mais de 11 milhões no mesmo período do ano passado.

DEMANDA CHINESA x OFERTA GLOBAL

A pressão da oferta sobre o mercado da soja é muito intensa neste momento e, no mercado brasileiro, a insuficiência logística penalizou os preços de forma bastante agressiva nesta temporada. Todavia, embora não esteja tão claro como em anos anteriores, a demanda global por soja também está bastante presente, mesmo crescendo em um ritmo um pouco mais contido, em especial por parte da China.

“Nos primeiros quatro meses de 2023, a China importou mais trigo, soja, carne de porco e cevada do que no mesmo período do ano passado. O volume importado de soja é um recorde para o período. O destaque negativo está no milho, onde as compras são 8% menores”, explica a especialista internacional em commodities, Karen Braun.

De janeiro a abril de 2023, as compras chinesas da oleaginosa somam 30,280 milhões de toneladas, volume 7% maior na comparação anual.

Assim, mesmo com números ainda muito pujantes, o crescimento do consumo é insuficiente para criar um colchão mais grosso para os preços da soja – e mais commodities agrícolas como milho, trigo e óleos vegetais – depois da queda promovida pela oferta.

“Há 10 anos-safra, o consumo mundial de soja cresce, em média, 3,2% ao ano. Para a temporada que vem, o USDA está trabalhando com um aumento do consumo mundial de 5,9%, e isso dá 21 milhões de toneladas. Mas, na nossa opção esse é número muito otimista”, afirma o analista de mercado da Agrinvest, Marcos Araújo. A perspectiva do executivo se dá pela estagnação da produção de proteínas animais – aves e suínos – pelo menor crescimento da economia mundial, e margens negativas para o suinocultor chinês, bem como entre as indústrias processadoras para a venda de óleo e farelo.

Assim, este potencial de aumento de 40 milhões de toneladas na produção frente a um consumo “muito otimista” de 21 milhões de toneladas a ser confirmado poderia gerar um excedente de 19 milhões de toneladas, que seguiriam para os estoques finais globais de soja, atualmente estimados pelo departamento americano de agricultura em 122 milhões de toneladas. E confirmado, este seria o maior estoque-uso da história.

Será, portanto, necessário monitorar e entender como se definirão as safras 2023/24 e como a demanda chinesa vai se comportar nos próximos meses para entender os próximos movimentos dos preços.

FECHAMENTO EM CHICAGO

Nesta quinta-feira, os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago terminaram o pregão com perdas de 0,50 a 5,25 pontos nos principais vencimentos, levando o julho a US$ 13,33 e o novembro, a US$ 11,87 por bushel.

Fonte: Notícias Agrícolas