Pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP afirmam que, após um período de crise em 2016, o setor suinícola teve mais fôlego para pagar as contas no ano passado. Apesar dos aumentos expressivos nas tarifas de energia elétrica, os custos de produção estiveram em patamares bem mais baixos em 2017, principalmente em função dos preços do milho e do farelo de soja, que recuaram. O preço médio da saca de 60 kg de milho na região de Campinas (SP) foi de R$ 29,94 entre janeiro/17 e 28 de dezembro/17, enquanto no mesmo período de 2016 havia sido de R$ 44,05/sc, queda de 32%.

Mesmo com a melhor condição para compra de insumos, as crises política e econômica do país em 2017 afetaram o poder de compra do brasileiro, que esteve retraído do consumo de carnes durante o ano, principalmente no primeiro semestre. Já na segunda metade do ano, a procura no mercado nacional começou a se aquecer e esteve bem ajustada à oferta de animais, carcaças e cortes nas principais regiões produtoras. Esse cenário acabou sustentando os preços ao longo do segundo semestre.

Na região SP-5 (Bragança Paulista, Campinas, Piracicaba, São Paulo e Sorocaba), de janeiro/17 a 28 de dezembro/17, o animal vivo teve média de R$ 4,13, alta de 9,23% frente à de 2016, em termos nominais. A carcaça especial, negociada na Grande São Paulo, teve média de R$ 6,43/kg em 2017, alta de 8,80% em relação ao ano anterior.

Mesmo com a reação no segundo semestre, o preço do suíno atingiu o maior patamar nominal em 17 de fevereiro, de R$ 5,32/kg na região paulista. Naquele período, diversas indústrias exportadoras estavam mais ativas nas compras de animais no mercado independente, no intuito de aumentar a linha de produção e garantir o abastecimento das demandas interna e externa.

Já em março, a operação “Carne Fraca” prejudicou tanto o desempenho das exportações, devido à paralisação de algumas plantas habilitadas a enviar a carne suína para importantes países, como a imagem do produto ao consumidor brasileiro. Rapidamente, os negócios internacionais envolvendo a proteína voltaram à normalidade e o setor pôde se reestruturar para atender à demanda nos meses seguintes.

No segundo trimestre, a greve de caminhoneiros em algumas rodovias de Santa Catarina (SC) limitou novamente as exportações brasileiras, à medida que dificultou o acesso aos portos de Itajaí e de São Francisco do Sul. Essa região corresponde a uma das rotas mais importantes para os embarques da carne.

Mais recentemente, o embargo russo à carne suína (com alegação de presença de ractopamina na proteína) trouxe mais uma preocupação ao setor. No entanto, já era esperado por agentes que o país euroasiático comprasse menos carne do Brasil a partir de novembro, devido ao congelamento sazonal dos portos, o que impede o acesso aos canais de importação. Neste sentido, o impacto do embargo não prejudicou tanto o setor no fim de 2017, mas não deixa de ser uma preocupação para este ano.

De maneira geral, as exportações não atingiram desempenho tão satisfatório em 2017. De acordo com dados da Secex, o volume embarcado de janeiro a dezembro, de 592,7 mil toneladas de carne in natura, foi 5,7% inferior ao de 2016.

Quando analisados os embarques totais de carne suína, em receita, no entanto, o setor exportador teve incremento de 12,31% frente ao desempenho de janeiro a novembro de 2016, somando R$ 1,49 bilhão. A reação no montante foi reflexo, principalmente, da valorização do Real frente ao dólar e do aumento no preço de venda da carne brasileira no mercado internacional. A moeda norte-americana teve média de R$ 3,18 em 2017, contra R$ 3,50 em 2016 e o preço de venda da carne brasileira no mercado internacional no ano passado foi de R$ 7,92 frente aos R$ 7,34 do ano anterior, elevação de 8,0%, cenário que minimizou os efeitos dos menores volumes embarcados.

Fonte: Cepea/Esalq