Se no mercado financeiro alguns meses são marcados pela “super quarta”, com todos os mais importantes indicadores sendo reportados em uma mesma quarta-feira, em fevereiro de 2024, o agronegócio conta com a “super quinta”, recebendo nesta dia 8 de fevereiro novos boletins mensais de oferta e demanda do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) e da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). E no reporte do departamento norte-americano, o foco permanece sobre as estimativas para as safras da América do Sul. “Este ano, alguma atenção poderá se dar também sobre as exportações norte-americanas”, acredita Todd Hultman, analista líder de grãos do portal DTN The Progressive Farmer.

SOJA COM BRASIL E ARGENTINA EM FOCO

Os novos números do USDA chegam às 14h (horário de Brasília) e podem sinalizar um novo corte na safra de soja do Brasil, de acordo com as expectativas do mercado. A média esperada é de 153 milhões de toneladas, contra 157 milhões estimadas pela instituição em janeiro. O intervalo das projeções é de 148 a 157,5 milhões de toneladas. Também em janeiro, a Conab estimou a produção brasileira da oleaginosa em 155 milhões de toneladas, número sobre o qual também se espera uma revisão para baixo.

Em suas redes sociais, o professor Dr. Marcos Fava Neves afirmou que os resultados das colheitas de soja pelo Brasil têm se mostrado muito preocupantes, com relatos variando – a depender das regiões produtoras – de 30 a 50 sacas por hectare. “As estimativas de produção devem ser revistas todas para baixo nesse mês. Nesta quinta sai o novo relatório do USDA, vamos avaliar”, disse.

As consultorias privadas estimam números que variam de 140 a 152 milhões de toneladas e a Aprosoja Brasil já projeta uma colheita que pode ficar abaixo das 135 milhões. Os números ainda divergem, há mais perguntas do que respostas e este tem sido um fator que deixa o mercado bastante na defensiva.

Afinal, a nova safra da Argentina vinha se desenvolvendo bem nas principais áreas de produção do país, porém, uma onda de calor que já dura quase 20 dias começou a preocupar os produtores e sinalizar a perda de potencial produtivo em alguns locais. Todavia, as expectativas ainda não apontam para mudanças muito agressivas pelo USDA nos números da safra do país sul-americano.

O intervalo esperado pelo mercado é de 50 a 52 milhões de toneladas, com média de 50,8 milhões. Há um mês, o boletim do departamento americano trouxe a produção de soja argentina estimada em 50 milhões de toneladas.

O mês de janeiro, tradicionalmente, é um dos mais chuvosos da Argentina, mas neste ano as chuvas ficaram 18% abaixo da média e ligeiramente menores também em relação a janeiro de 2023, segundo a especialista internacional em commodities agrícolas, Karen Braun. “E quase 90% das precipitações vieram na primeira metade do mês”, diz.

O gráfico abaixo mostra o comportamento das chuvas durante temporadas que marcaram de forma significativa a produção de soja na Argentina. A linha roxa se refere à safra 2015/16 – quando se registrou o último ‘super’ El Niño -, a amarela da safra 2018/19, quando o recorde de produtividade na soja foi registrado -, a azul referindo-se à safra 2022/23, que teve a pior temporada da história devido à seca, a preta sólida a safra 2023/24, com o atual Super El Niño, e a preta pontilhada sendo a média dos últimos 10 anos.

Chuvas na Argentina
Gráfico: Karen Braun

Na sequência, o gráfico sobre as temperaturas. “No geral, o cinturão de grãos da Argentina ficou com temperaturas ligeiramente abaixo da média em janeiro, com a ressalva de que a segunda quinzena foi pelo menos 1°C superior à primeira, com ênfase na última semana (2° acima da média do mês)”, explica Karen, que ainda afirma que, para o final desta semana, as previsões indicam temperaturas normais.

Temperaturas na Argentina
Gráfico: Karen Braun

Ainda na “super quinta”, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires traz seu novo relatório semanal com as condições das lavouras e hídrica dos campos. A instituição ainda estima uma safra de soja de 52,5 milhões de toneladas.

Estoques Finais – Os estoques finais mundiais de soja são esperados entre 109 e 115 milhões de toneladas, com média de 112,9 milhões. Em janeiro, o número veio em 114,6 milhões. Sobre os estoques norte-americanos, as projeções variam de 6,67 a 8,49 milhões de toneladas, com a média em 7,67 milhões, ligeiramente maior do que o número do mês passado, de 7,62 milhões.

MILHO: MUDANÇAS ESPERADAS NOS EUA

“Há apenas um ano, o relatório do USDA descrevia um mercado de milho bastante diferente. Com os estoques finais norte-americanos estimados (à época) em 32,18 milhões de toneladas, os preços do cereal vinham sendo negociados perto de US$ 6,78 por bushel. Já neste início de fevereiro, a projeção do USDA ainda é de 54,92 milhões de toneladas (para os estoques finais) e os preços perto de US$ 4,42, estando “soterrados” não só pela oferta maior dos EUA, mas antecipando também a chegada de mais milho do Brasil e da Argentina. Se as pesquisas estiveram corretas, o USDA deverá elevar levemente os estoques dos EUA nesta quinta”, afirma Todd Hultman.

As expectativas do mercado variam de 52,45 a 56,19 milhões de toneladas, com média de 54,21 milhões. As projeções dão conta ainda de que o relatório poderia também indicar um leve aumento nas exportações de milho dos EUA na safra 2023/24. As vendas do atual ano comercial já passam de 33,6 milhões de toneladas, contra pouco mais de 28 milhões do mesmo período do ano passado.

Para a produção brasileira, as projeções trabalham em um intervalo de 121 a 127 milhões de toneladas, com média de 124,3 milhões. Em janeiro, a estimativa foi de 127 milhões. Assim como a soja, a safra de milho verão também sofreu e a segunda safra já começou bastante comprometida, com uma área menor do que o inicialmente projetado.

Já a média esperada para a produção de milho da Argentina é de 55,7 milhões d toneladas, em um intervalo esperado de 55 a 57 milhões, e frente as 55 milhões estimadas pelo USDA no mês passado.

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes

Fonte: Notícias Agrícolas

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